22 março, 2010

Tempo , Idade e Espaço



O que é mais próximo de nossa natureza: fama ou saúde?
O que é mais valioso: saúde ou fortuna?
O que é pior: ganhar ou perder?
Aquele que ama objetos particulares desperdiça o seu amor.
Aquele que acumula posses, termina em perda.
Aquele que conhece o contentamento está livre de ofensa.
Aquele que sabe quando desistir está livre de perigo.
E pode ter vida longa.

(Lao Tse - Tao Te King)


15 março, 2010

O Túnel


A luz no fim do túnel. À saída, o ceú escuro, sombrio, ameaçador. Irrompe a tempestade imprevísivel, violenta, implacável. Os céus em pranto. As pedras geladas.
Um silêncio premonitório. Aquelas palavras que ainda ecoam dentro de mim:
" Já está!". Já fomos, não há salvação, penso.
E hoje lembrei-me das palavras de Cristo:"Está consumado". Missão cumprida.
A morte vencida. A morte de um Homem pela eternidade de muitos.

Surrealista, disse. Sim, um acontecimento estranho, surreal. Para mim, como se o mundo invisível e o mundo visível se tivessem cruzado naquele instante e a realidade tivesse sido alterada por um insondável desígnio divino. Como num sonho, talvez. Ás vezes, os sonhos parecem tão reais, tão vívidos.

Os céus em pranto. Eu não chorei. Chorei depois. Não de tristeza, nem de alegria. Penso que de gratidão e comoção.
Somos tão preciosos. Deus conhece de cor cada recanto das nossas almas.

Quando estas coisas acontecem não podemos ficar indiferentes...Ninguém fica indiferente. E vemos quão preciosos somos no olhar de quem nos ama. Vemos o quanto nos querem bem. Como temem perder-nos. Como nos agarram e beijam como se lhes fossemos escapar.

Eu acredito que estas coisas acontecem não tanto para aprendermos com os erros e tornarmo-nos mais prudentes quanto para nos despertar, para nos lembrar da nossa fragilidade, da nossa dependência e mortalidade...Também acontecem para esvaziarmos o ego de quaisquer indícios de orgulho fariseu, auto-suficiência e altivez, livrar-nos do egoismo.


Sabe que um dia vai morrer, e que esse dia pode ser já hoje; mas vive como se esse dia nunca fosse chegar. Acredita ter toda a eternidade pela frente e vai adiando sucessivamente as decisões importantes, as mudanças que urgem...
Perde-se em insignificâncias, coisas sem conteúdo e sem sentido...A rotina te embala num sono letárgico... Nos olhos o torpor e o vazio das horas que passam sem que faça sentido aquilo que se vive. Precisa de um safanão, de um choque,talvez um susto, que te desperte da ilusão do tempo indeterminado que julga ter pela frente. E tem de ser assim? Por que não aprender com a morte dos outros?

A vida é uma dádiva. Faz dela o que quiser, com a liberdade que te foi concedida. Mas, tem cuidado com a forma como usa a liberdade.
Não a usa para teu próprio proveito.

A efemeridade da vida. Fragilidade constrangedora. Os pensamentos emaranhados. O coração em silêncio contemplativo; expressando-se numa linguagem que só Deus entende.


Sorte? Acaso? Milagre? Destino?
Por vezes, entramos nos túneis escuros da vida e não conseguimos ver a luz ao fundo, ou esquecemos que ela existe como nos outros túneis que já atravessámos. Mas, enquanto atravessamos o túnel escuro do sofrimento, da dor, da perda, do fracasso, há sempre uma luz que nos guia e ilumina. A luz da fé. A luz da esperança. A luz do amor. A luz da amizade.
O pior é quando na nossa alma todas as luzes se apagam e, através do túnel escuro e medonho, vagueamos sem direção e sem rumo, ás apalpadelas, com a alma seca e os olhos molhados.
Mas, a luz continua a brilhar lá no fundo, do túnel, e da alma. E nunca estivemos sós por mais que acreditassemos nisso. Houve sempre um propósito, apesar da aparente falta de sentido. Houve sempre uma luz, apesar da escuridão. Houve sempre uma mão, apesar do sentimento de abandono e desamparo. Houve sempre uma
mão e sempre haverá.
A Mão Invisível de Deus.



"Eles não estão mortos. Passaram apenas
para além das névoas que aqui nos cegam
para que em esferas mais serenas
uma nova e maior vida tenham".
John Mc Creery em seu formoso poema rosacruz.


DESPERTA EM PAZ



04 março, 2010

Primordios


Das tuas coisas perdidas,
Tudo que foi por voce e eu não estava,
A dor da tua vida que não doeu junto,
Tristeza do tempo passado
Entre eu e voce sem mãos dadas.

Das tuas coisas perdidas
Cores que não pintaram parte alguma,
Vento que posso não mais saber
De que jeito mexeu o teu cabelo,
Felicidade que não entendo que pudesse ser tua
Sem que tivesse sido também minha.

Das tuas coisas perdidas, resquícios, indícios, pegadas,
Entristeço por não ter estado desde sempre, sempre.
Desde antes, de não ter visto, vivido, compartido, entendido,
De não saber, que podia estar, que podia ser.

Quase esqueço que precisávamos perder tantas coisas,
Minhas e tuas, para encontrarmos as nossas.

Dá-me tua mão, e não larga, Aurora de Cores
Sob meus olhos castanhos,
Sobre minha pele o teu rastro ,
Sobre meu peito teu ninho e animal faminto.

Dá-me tua mão, encosta teu rosto,
Acaricia meus lábios com os teus,
Vão da gengiva, dos dentes, saliva e carícia.
Entre meus cabelos, emaranhado novelo,
afago, rédea, arreios, seguro-te sobre meu dorso,
jugo aflito e pleno.

Dá-me tua mão, ao redor do pescoço,
Na medida da cintura,
Um pouco acima dos joelhos,
Busca de um perfume perdido.

Dá-me tua mão, sossego e resgate,
De lança e laço,
De afago , de encanto.
Dá-me a tua mão de flor e canela,
De gosto e encontro,
Desespero e descanso.

Desde sempre,
Desde o início,
Dos primórdios,
Desde antes de qualquer outra coisa,
Amei tuas mãos.

Essas mãos de promessas insuspeitas,
Cada uma um hemisfério,
Um território, um continente,
Um oceano onde vivem
Peixes e moréias,
Anêmonas e corais.

Amei tuas mãos e sua cor de canela,
Seu toque de lã, seus gestos de força,
Sua vocação de ninho e afago,
Suas vontades secretas,
Se enchendo dos meus cabelos.

Amei tuas mãos sobre as minhas,
Laços dos meus dedos,
Grandes pássaros cheirando às viagens que fizeram.
Amei tuas mãos cheias de memórias
que voltam pra casa quando tocam meu rosto.