05 maio, 2009

Infância


Um naco de felicidade é poder olhar para trás
e encontrar esse vasto mundo que se chama infância.
Adivinhação da vida.
Bem sei que, com muita gente, acontece essa coisa estranha:
torna-se adulto sem ter sido criança.
Ou, o que é pior: ter sido criança sem ter tido infância.

A infância, para mim,
não é apenas e simplesmente uma idade,
mas justamente aquele mundo de pequeninas
coisas que tornam inconfundível
na lembrança um tempo de alegria,
um tempo em que conhecemos a felicidade
sem ao menos nos apercebermos dela.

Infância mesmo a gente só pode ter depois de crescer.
Porque antes a gente não sabe.
Uma pena que a gente só descubra a infância depois que ela passou.

Que ela seja como um sonho de que só temos consciência
quando acordamos, já adultos.
Ah, se pudéssemos retornar o sonho,
tão próximo e tão distante, interrompido pela vida,
para revive-lo plenamente,
com a consciência, com os sentidos despertos.

Quero referir-me também aos que não conheceram seus pais,
os que nasceram órfãos, os que nunca souberam
o que significa um lar, aos que não tiveram
a oportunidade de experimentar tantas e
infinitas alegrias colhidas com liberdade e amor.

Os que nunca souberam pronunciar a palavra
infância com todas as suas letras;
não tiveram companheiros de aventuras;
não sabem o sentido de coisas simples
e inesquecíveis como bolas de gude,
piões, papagaios, balões...

Os filmes seriados na TV em preto e branco,
as brincadeiras de bandido e mocinho ,
(e olha nenhum dos meus amigos se tornaram
marginais porque um dia brincamos de bang-bang) ,
fazer cabana,
brincar de indio ,nadar na lagoa , brincar na chuva .


Deitar na grama e ver que formas as
nuvens tomariam naquele instante,
e sempre tomavam formas maravilhosas
de acordo com nossos sonhos e
do tamanho de nossa imaginação ,
brincar até a noite e correr atrás de vagalumes,
onde a noite era sinônimo de beleza e natureza.

Me lembro da minha infância:
trago-a intacta dentro de mim,
posso quase toca-la com as mãos.
Nela fui rei e moleque.
Ficaram em meu corpo suas marcas
e cicatrizes e me orgulho delas
como um combatente de suas medalhas,
cada uma tem sua história, encerra uma aventura.

Vivi todos os seus riscos, junto aos companheiros.
Ainda ouço a voz de minha mãe me repreendendo,
quando voltava para casa:

- Já não disse que não quero você com aqueles moleques?

E quantas vezes ouvi também outras mães chamando
por seus filhos e repreendendo-os com as mesmas palavras.

Sou um homem feliz porque tive infância.
E quantas vezes tenho fugido para ela,
tentando reabastecer o coração de esperanças e ilusões.
Sim; posso encontra-la viva, intensa,
apenas volto o rosto,
em cada curva da lembrança.


Um comentário:

Lê disse...

ahhhhhhhhh a "nossa velha infancia"..
fui muito feliz... fecho os olhos e posso sentir o cheiro do cafe coado .. o bolo de fubá saindo do forno e o piano que sempre tocava lindas cançoes...
era magico..e ainda o é pois trago tudo isso e muito mais dentro de meu coração

um beijo no moleque travesso que vc tras bem junto a ti...