16 dezembro, 2008

Mergulho Silencioso

Para Eleonora, que compreende meu silêncio à tanto "tempo"!

Mergulho no silêncio e como se num oceano as palavras permanecessem mudas
sinto-as preencherem os espaços externos e internos do meu corpo afogando-me, com a diferença que este mar de silêncio me permite respirar melhor.


Não ouço nada do externo depois de um tempo,
apenas murmúrios e vozeirios de sons internos
que ora emergem fortes em tinidos e ruídos,
outros, tímidos e longe como o balouçar
de ramadas das árvores no inverno.

Momento precioso do reencontro sutil e substancial com meu ser.


Permaneço em mim, neste estado reflexivo, não há pra onde ir.


Ouço o som já próximo do silêncio, trás consigo imagens de
momentos , situações, cheiros doces , perfumes.


O silêncio carrega em si uma infinidade de surpresas e belezas,
carrega o passado, me mostrando em imagens caras
a nostalgia e a saudade de uma época, tudo vejo ,
sinto o cheiro e o sabor, o roçar da brisa no rosto ,
a sensação do áspero, do leve, do macio,
na ponta dos dedos e na palma das mãos,
e sei que tudo esta sendo me proporcionado
pelo estado de silêncio e as imagens bidimensionais
projetadas numa tela interna, na raiz do nariz.
Bidimensional ?...e esses cheiros, esses sabores,
todas essas cores e formas,
essas texturas, de onde vem ?

Mas essas dúvidas e perguntas logo se misturam com mais imagens e sensações.
Gostaria de apenas contemplar!

Estou agora na metade de uma tarde.
Uma tarde mais longa de todas as tardes que o dia acontecia,
o sol ardia por entre a ramagem rasteira da rua arida
e poeirenta uma preguiçosa paisagem lenta,
quase imóvel, apenas abalada por um ou outro ruído
ou pio de algum pássaro.
Nesta paisagem ouço o
som de cada passo meu, e sinto as pequenas pedras
cingirem o solado de meus sapatos,
estalido e raspando .

Ando lento.
Não vou pra lugar algum e estou em todos os lugares os quais queira.
Viajo em meu silêncio, meu corpo físico já não incomoda, meu idêntico corpo
energético é muito mais sofisticado e incrivelmente leve.

Sinto aprofundar-me num mergulho azul.
Meus olhos estão fechados, mas vejo perfeitamente as imagens silenciosas do Universo.
Novamente fragrâncias perfumadas tomam conta do meu olfato mas não são minhas narinas que agora sentem, nem consigo definir o aroma que sinto nem como sinto.
Abro os braços, como se preparando um abraço silencioso e de repente num inspirar, nem havia notado mais que respirava, o silêncio tateia minha pele,penetra meus poros, arrepia meus pelos, cuida do meu intimo e do meu ser.

O Silêncio me possui.
Eu possuo o silêncio.
Não existo mais, estou em tudo, tudo esta em mim.

Agora entendo porque todos que um dia estiveram com Silêncio
querem retornar aqui.

Os tempos mudam, a humanidade se transforma, mas o silêncio continua o mesmo e o prazer que vem dele permanece o mesmo.
Meu silêncio, é a única coisa que posso confiar, a única coisa que nunca morre.
Do silêncio nasci e a ele retornarei.
Meu silêncio é o que posso chamar de meu próprio ser.
No silêncio das palavras consigo ouvir a voz da minha paz.

Um comentário:

disse...

teu silencio tb é vc.....